Alberto Murray Neto responde a um estudante e dá uma aula para todos nós


Elefantes brancos, prioridades e infraestrutura. Esses são os três principais pontos que devem ser observados quando se analisa a candidatura e posterior realização da Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016 no Brasil, segundo Alberto Murray Neto. Murray Neto é advogado, ex-membro do COB, membro da Corte Arbitral do Esporte e um dos principais expoentes da luta contra os mandos e desmandos de Carlos Artur Nuzman à frente do COB.

Alberto Murray Neto em entrevista para Juca Kfoury

Um aluno do terceiro ano questionou Murray em seu blog, sobre possíveis dicas sobre como melhor iniciar uma discussão sobre a realização desses eventos esportivos no Brasil. A resposta é uma verdadeira aula.

Caro Miguel,

Obrigado pela mensagem. Sim, eu moro em SP. Teria o maior prazer em palestrar. Veja que os maiores obstáculos para Copa do Mundo e Olimpíada são essencialmente dois:
  • Preparar a infraestrutura do Brasil para receber os eventos. O Brasil é um País que inseriu em seu mercado consumidor pessoas que até pouco tempo viviam abaixo da linha da pobreza. Eles entraram no mercado consumidor, mas o Brasil não tem infraestrutura para absorvê-los. Esse quadro piora quando o RJ (no caso dos JO) e o Brasil (no caso da Copa) terão que receber com conforto e segurança um número grande de pessoas. O Brasil precisa incrementar, e muito, a sua malha viária, ferroviária, hoteleira, urbanização de cidades, metrô, trens de superfície, segurança pública, construção de complexos esportivos necessários para os dois eventos, aeroportos e tudo mais. O tempo para fazer tudo isso é extremamente exíguo. Para a Copa, lembre-se que em tres anos haverá a Copa das Confederações. É um eventos teste. A maior parte disso tudo já deverá estar pronta. Portanto, esse é um ponto fundamental; e
  • Não menos importante do que isso é não deixar “elefantes brancos” espalhados pelo Rio e pelo Brasil. Será gasto muito dinheiro público nesses eventos. Então tudo terá que ser efetuado com absoluta transparência e parcimônia. Não precisa fazer no Brasil a Copa da Alemanha, um País rico, sem carências sociais significativas. Por isso, tanto a Copa, bem como os JO, devem ter o tamanho do Brasil, quero dizer, feitos de acordo com o que o Brasil pode pagar. Senão o rombo financeiro será impagável. E é fundamental que ao final desses eventos, o povo do Rio e do Brasil possa olhar e dizer que a vida deles melhorou com os investimentos que foram feitos. As obras de infraestrutura devem atender não somente aos cadernos de encargos da FIFA e do CIO, mas aos anseios e às necessidades do povo. Os complexos esportivos devem ser utilizados, a posteriori, para massificar a prática esportiva no Brasil. Criar escolinhas de esporte para as crianças. Colocá-los também a serviço do povo da terceira idade, para que pratique esportes nesses locais.

E, fundamental, cuidar para que não haja explosões nos orçamentos.

No Pan Americano Rio 2007, houve um super faturamento de 1.000%. E se olharmos para ele, podemos dizer que o Rio melhorou? A vida do carioca está melhor após tanto dinheiro público investido? Aumentaram as oportunidades de prática esportiva na Cidade para crianças, jovens e adultos após o Pan Americano? A resposta clara é não. Então que a Copa e os JO sejam diferentes.
 
Eu defendo que em cada estádio construído para a Copa, ao final dela, haja uma reforma de maneira a se fazer ali uma pista de atletismo. E em cada estádio fazer polos de massificação e desenvolvimento do atletismo no Brasil, em um trabalho de longo prazo.

Acho que por aí Você pode começar o seu trabalho.

Obrigado.
Boa sorte!
Abraços do Alberto.

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